quinta-feira, dezembro 16, 2004

Homenageando Drummond

Poeta de muitas facetas

Realmente não serei capaz de atualizar esta página todos os dias. Nem completou uma semana e já faltei com a "obrigação" de rechear este espaço com palavras. Falta de criatividade, preguiça, calor em excesso. Desculpas não me faltam. O que me faltará, vez por outra, será assunto.
Hoje tenho um tema. Estou há horas tentando desenvolvê-lo, porém, só o que consigo é "plagiar", involutariamente, o que já foi dito sobre este assunto. Por isso, vou postar um poema, e dedicar uma nota ao seu autor.

Carlos Drummond de Andrade. Admiro as várias faces do poeta. Na 1ª fase modernista conseguiu traduzir direitinho a proposta de ruptura estilística em seus versos, fosse no hilário e repetitivo "no meio do caminho tinha uma pedra", ou, na descrição debochada de sua terra natal, a mineira Itabira, em "cidadezinha qualquer".
Num segundo momento, Drummond se torna mais introspectivo e passa a relatar em seus poemas o momento histórico. O livro "A Rosa do Povo" demonstra um poeta interessado nas consequências da Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo, de Getúlio Vargas.

Consolo na praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
Em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve
À sombra do mundo errado.
Murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
Precipitar-se de vez nas águas.
Estás nu, na areia, no vento...
Dorme meu filho.