quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Inferno


Divina Comédia Posted by Hello

Acima, uma visão dantesca do inferno...

Primeiramente, um aviso aos meus raros leitores: por tudo que é mais sagrado, quando deixrem comentários, identifiquem-se. Se não usarem o nome de batismo usem um apelido que eu conheça (viu pig! quem é você? Faça contato! Rs).... Lembrando que comentários são sempre bem vindos!!!!
Bem, hoje, só para variar vou postar outro artigo de minha autoria. Estava temerosa quanto à escolha do título. INFERNO não é palavra legal de se ler ou ouvir, mas, não achei substituta à altura.... De onde tiro essas idéias? Adoraria saber!

O inferno são os outros

Não sei como pode ainda hoje tantas pessoas conceberem uma imagem mítica do inferno. Muito fogo, e consequentemente, uma atmosfera cuja temperatura não é lá muito agradável, cheiro de enxofre e trabalhos pesados supervisionados por ninguém menos do que o próprio Satã, representado por uma figura vermelha e com chifres. Tudo muito medonho!
Esta idealização do inferno vem desde a Idade Média e perdura até nossos dias. Na minha infância ouvi muito minha mãe falar que fim eu teria se não fosse uma boa menina. As ameaças de ir parar num lugar tão horrendo não só amenizaram meus problemas de comportamento como custaram muitas noites de sono aos meus pais. O medo me provocava insônia.
Assim como minha mãe fazia, muitos pastores e líderes religiosos tentam conseguir a obediência dos fiéis prometendo-lhes um fim não muito aprazível se não se comportarem direito. Geralmente, o objetivo de quem promete o inferno são coisas simples, ligadas ao universo da própria religião, como manter a castidade até o casamento ou manter as parcelas do dízimo em dia, além de propostas válidas para todos, como não matar e não roubar. Isso deve ser eficaz, afinal as igrejas estão sobrevivendo...
Mas obter a obediência e manter a justiça através do medo nem sempre dá certo. Ou o inferno acima descrito não é destinado aos grandes ladrões – e me refiro aqueles de colarinho branco, bandido credenciado e beneficiado pela lei, classe muito bem representada pelos políticos – ou eles não tiveram nem mãe nem religião.
Imagine a cara do fiel, que levou uma vida miserável, e que por um tropeço aqui e ali foi parar no inferno, quando encontrar aquele figurão que vivia aparecendo nos jornais, acusado de meter a mão no dinheiro público. Revoltante, não?
Se existe justiça após a morte o inferno tem que ser dividido em departamentos. O melhor castigo para um corrupto, na minha opinião, seria ele enfrentar uma fila do INSS, sem fim. E durante a longa espera, ele ia repensar tudo que fez durante sua vida, tudo que usufruiu às custas do dinheiro público, sabendo que iria passar a eternidade ali em pé.
O inferno não é um lugar mitológico. O inferno é o confronto da sua consciência com seus erros, suas fraquezas, seus preconceitos, enfim, tudo aquilo que você tenta ignorar. Como disse Sartre, "o inferno são os outros".