sábado, dezembro 17, 2005

Menino



“Não tens idade nem trigo,
nem rosto nem profissão.
Podes fazer o que quiseres com palavras, harpas, almas.”



Ah, menino!
Criança em corpo de homem
Não tens culpa do que sentes
Não entendes o mal que lhe fazem

Ah, menino!
Que diante das adversidades
Se esconde e chora
Espreitado num canto

Ah, menino!
Se soubesses quantos
Milhares de homens e mulheres
Invejam a tua coragem

Ah, menino!
Se eu pudesse
Te protegia e te resguardava
De toda maldade do mundo

terça-feira, dezembro 13, 2005

Resposta





"Que a morte das coisas que eu acredito, não cale a minha voz, porque metade de mim é grito e a outra metade silêncio."


O que sobrou de tudo?
O que restou para mim?
Nem a sombra da Lua.
Nem o consolo das ruas.

O que parece novo?
Onde se chega assim?
O tilintar da flautas.
O vaivém das valsas.

E quem recebe as preces?
É quem desvenda o medo?
O coração da santa
O pulsar das mantras.

É mãe, pai ou filho?
Mulher, homem ou dragão?
A marca do M na palma.
A ampulheta da alma.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Casa de boneca







“Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
Lavadeiras e passarinhos,
Ovos verdes e azuis nos ninhos?”


Uma dose extrema de realidade. Do que, indiscriminadamente é, sem se importar a quem interessa, a quem ajuda ou a quem fere. É como o viciado, que sempre diz que tomou a última dose. É como aquelas pessoas que se cortam.
Engraçado... sempre que penso nisso lembro da minha infância: a boneca na gaveta. Morria de medo da boneca que ficava sobre a cama, por isso ela fora colocada na gaveta. Entretanto, sentia necessidade de olhar para ela, nem que fosse para me provocar o choro. Pois é... Hoje encarei a boneca mais uma vez! Ela estava mais assustadora do que nunca. Com seus olhos vermelhos de pânico e com seu vestido de veludo. Parece a noiva do mal. E agora? Eu choro? Sim, eu choro. E não tem ninguém para fechar a gaveta.
Já é noite e sei que meu sono será perturbado pela lembrança da boneca. Faz frio, por isso as crianças já se recolheram. Não há ninguém lá. Não há sequer uma criança na rua. Não, elas não estão brincando de esconde-esconde. Estão em casa, protegidas, assistindo tv e fazendo a lição de amanhã.