segunda-feira, janeiro 31, 2005

Elemento água


relax Posted by Hello

"É inútil fechar os portões às idéias: elas pulam por cima"

Tenho pensado basicamente duas coisas nas últimas 24 horas. A primeira delas é que não existe nada que seja mais relaxante do que água. Pare pra admirar o oceano, um rio, um lago, ou mesmo uma poça refletindo imagens... é reconfortante! E um passeio de barco? Mesmo que seja pelo Tietê. Tem coisa melhor????
O meu segundo pensamento é: como nossas idéias parecem melhores quando não temos papel por perto. Falo isso baseado no artigo que estava tentando escrever... enquanto era um esboço mental parecia ótimo, agora, em frente ao computador me fogem as palavras....
Tento relaxar navegando minha própria mente.... mergulho no mar de idéias... mas acabo me afogando em meio a tantos pensamentos frustrados... É ... há dias em que estamos transbordando feito o oceano, que insiste sobre a areia da praia... noutros... somos míseras poças tentando resistir mesmo sob o sol a pino.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

olhos


Posted by Hello

"Tristeza, não,
É falta de gente para nos dizer mentiras inteligentes
Revigorando nosso ego
Fragilizado por decepções permanentes
Tristeza, não, é falta de gente..."

Tem um poema, cujo autor eu não me recordo agora, que diz que os olhos são as portas da percepção. Eu não reconheço meu olhar...
É triste passar por tanta coisa na vida e ainda assim carregar a dúvida: "Quem sou eu?"
É solitário passar tanto tempo sem cruzar com um olhar apaixonado
É decadente receber doses diárias de compaixão através do olhar

Talvez eu seja o que eu escrevo. Então serei como quiser?

Meu mais singelo e profundo desejo é que ao menos uma vez, numa única oportunidade, eu conseguisse desvincular o que sou de quem sou
Só queria tentar ser feliz

Mas eu não posso ficar aqui destrinchando ressentimentos
Sou uma fortaleza, infalível
Sigo modelos do passado, cultuo ídolos esquecidos
E ninguém mais vai me destruir

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Formatura


noite iluminada Posted by Hello

Este é pra você, Andréia.... nosso xaveirinho (com x mesmo!)

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"
Fernando Pessoa
Formatura da Andréia no último sábado. Tudo perfeito. Desde o banho de vinho na May até a torcida de pé da formanda. Vigilância em excesso de um certo namorado enciumado. Teve também chato de Niterói tirando uma no nosso sotaque, flores roubadas, entrada vip na rave do Gutão, bicadas no whisky do Nersinho, casinha de boneca, risadas e quase um super tombo no banheiro, Bono mastigando minha sandália, saltos afundando na lama... Será que esqueci algum detalhe?
Acima, trecho da poesia que vinha junto com a identificação da mesa da formanda (que foi surrupiada).
Andréia lindíssima no seu traje - a mais bela da noite, sem exageros!
Na foto, o reflexo de como estavam nossos espíritos no auge da festa....
Valeu por tudo amiga! Faça bom uso do seu diploma, seja ele qual for! E muita sorte no Timor Leste! rs
Nós te amamos.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

amor à camisa


O Divino Posted by Hello
Ademir da Guia, eterno camisa 10 do Palmeiras, clube que defendeu de 1961 a 1977.

"A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou mais corretamente, de ser amado apesar daquilo que você é."
Victor Hugo

Este post é totalmente dedicado àqueles que me amam, ou que me suportam, apesar de algumas manias estranhas, como o meu fanatismo futebolístico.
A minha simpatia é motivo de chacota para alguns, e para outros, digna de pena. Para essa galerinha vou escrever um texto bem desaforado hoje!
Primeiro, alegria dupla aos torcedores do PARMERA, com a vitória do alvi verde por 5X3 contra a Inter de Limeira. Apesar do juizão ter dificultado um pouco, o time estava entrosado. Até o Lúcio jogou bem! E claro, a vexamosa derrota do CURÍNTIA (os gambá sim contaram com ajuda da arbitragem – 2 horas de jogo e não conseguiram nem um empate? Francamente!). Nem vou falar das estrelas de arquibancada que contrataram a fim de não parecer parcial...
Outro motivo de felicidade para os palmeirenses é a permanência de Magrão no time, que ajuda a derrubar a horrível tese de que todo atleta é mercenário. A imprensa atribuiu problemas no contrato à desistência do jogador em atuar na Rússia, fato meramente profissional. Refuto esta hipótese. O Magrão ficou mesmo porque é um dos poucos que ainda possuem o escasso "amor à camisa". Tenho certeza que o prazer de jogar no alviverde paulista foi decisiva. Afinal, há como trocar a idolatria da torcida pelo frio siberiano? Não!

terça-feira, janeiro 18, 2005

Livros


Posted by Hello
"Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas"
Caio Graco

Crônica dos livros

Existem, basicamente, dois tipos de bens materiais que prezo mais que tudo na vida. Errou quem disse roupas e sapatos. O fato de eu ser mulher pode dar margem à essa conclusão e, além disso, são utensílios muito importantes, afinal o modo de vestir-se reflete o caráter de uma pessoa, mas isso não é relevante no momento. Meus bens preciosos são meus livros e meus CDs, e não digo isso demagogicamente, a fim de parecer intelectual.
Por uma dessas casualidades da vida, tenho visto meus livros e Cds jogados em todos os cantos da casa. Eles viviam seguros no acalanto do meu quarto, mas, tiveram de mudar-se temporariamente. Acontece que o resto da minha residência não estava pronto a abrigá-los, principalmente aos livros.
O motivo não é porque sejam em número exorbitante – infelizmente, ainda não possuo volume de livros que se possa chamar de biblioteca, na melhor das hipóteses, um "generoso" arquivo pessoal – o problema é falta de espaço mesmo!
A mudança veio com o propósito de lhes proporcionar um local mais digno de se viver. Eles ganharão uma estante nova, mais espaçosa, onde poderão se organizar melhor, e tenho certeza, serão mais felizes lá. Mas, enquanto o novo lar não fica pronto, me olham amedrontados.
A angústia tomou conta do ambiente. "O que faço em cima da mesa de centro? Pretendem me transformar em calço?" Ouço eles murmurarem. Ou em casos mais extremos, podem imaginar (alguns livros são bem criativos) que me cansei e planejo livrar-me deles. "Quem fim trágico para quem proporcionou tantas horas agradáveis! Quem compartilhou todo o conhecimento que possuía! Não é justo!"
Queria poder dizer aos meus livros que nada de mal vai lhes acontecer. A mudança, às vezes, é necessária. Que não pretendo vendê-los, nem trocá-los, nem doá-los ou algo do gênero. Continuarão sendo objeto de estima e mesmo de veneração. E que esse sentimentalismo todo que nos envolve é também uma metáfora das relações humanas. Há momentos em que parece que nos esqueceram, nos deixam em qualquer canto, e isso pode significar apenas que algo está mudando – e para melhor.

domingo, janeiro 16, 2005

A história


Pagu Posted by Hello

Este post é totalmente dedicado a May

Tô transformando este blog num espaço um tanto didático, que no popular é o mesmo que chato, mas tudo bem. Hoje vou falar um pouco sobre Patrícia Galvão, mais conhecida como "Pagu" - uma mulher que merece muitas homenagens. Por achar que a minha página anda meio sem fotos resolvi iniciar com a imagem da homenageada.
Eu adotei "Pagu" como uma espécie de pseudônimo e desde então a pergunta que mais ouço é "que é isso?".
Em primeiro lugar quero admitir fui um tanto audaz ao adotar este apelido. Não chego nem aos pés desta mulher, entretanto, me identifico e expresso profunda admiração a ela.
Pagu surgiu durante a segunda fase modernista. Era escritora, colaboradora da Revista de Antropofagia de Oswald de Andrade. Feminista, ativista política, marxista... e outros tantos adjetivos. Vou tentar uma breve descrição (da escritora, conclusões sobre o aspecto físico, que aqui não tem relevância, tirem vocês mesmos!).
Seus textos apresentavam um estilo humorístico parodial, que era uma marca do movimento, mesclado à crítica social e política. Foi a primeira brasileira a ser presa por motivos políticos.
Como feminista, não pregava a inversão de papéis entre homem e mulher - muito embora, convenhamos, esta às vezes parece ser a paga mais justa por mais de três mil anos de subestimação - mas sim um mundo igualitário. Para tal buscou embasamento na teoria marxista. Pagu conferia a mesma importância a luta pela igualdade dos sexos que ao confronto burguesia x proletariado.
Sobre a vida pessoal eu não falo. Na verdade, pouco importa quantos filhos teve, de quem foi amante... O importante é que ela prova que uma feminista não é uma mocréia ressentida, mas sim uma mulher que conhece seus direitos e acredita no seu potencial.
Pagu pra mim sempre soou como uma idéia abstrata, tal qual uma deusa. Era uma mulher muito a frente de seu tempo, por isso acho audácia de minha parte me apossar assim de seu nome.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Menos conforto e mais conflito

Este texto é sobre a praga literária chamada auto-ajuda que se abateu sobre nós...

Agradecimento especial ao amigo Guirado, que auxiliou na escolha do título.


Sempre afirmei que seria capaz de escrever um livro de auto-ajuda – visando o lucro, obviamente - mas nunca teria coragem de ler um.
Não acho que os livros devem simplesmente confortar o leitor dizendo exatamente aquilo que ele deseja, anseia ou necessita ouvir. Livros, ao contrário disso, devem instigar o conflito das emoções humanas e expor as fraquezas e virtudes da espécie. Foi exatamente como agiram os principais escritores da literatura universal: Dostoievisky, Goethe, Kafka, Joyce.
Imagine cometer um crime com a finalidade de experimentar o sentimento de culpa; vislumbre um pacto entre um homem e um demônio; ou num belo dia acordar e ser preso sem ter conhecimento do que está sendo acusado; ou ainda, as 24 horas de um cidadão irlandês ser transformada numa epopéia. Estas idéias malucas e perturbadoras saíram das cabeças dos grandes gênios.
Literatura, propriamente dita, traz consigo enraízado o propósito de romper padrões, chocar, atacar, revolucionar... muito embora esta intenção possa não ser captada de imediato.
Outro fator que deveria incomodar os leitores de auto-ajuda é a vendagem exorbitante. A categoria vende milhões de cópias em todo o mundo enquanto escritores consagrados vendem alguns milhares. Cuidado com o consumo excessivo de lixo. Isso seria possível sem o apoio de uma indústria cultural? Se Adorno e Horkheimer ainda estivessem aqui poderiam responder.
A literatura não apenas sobrevive ao tempo, mas às vezes, necessita dele para ser entendida em sua plenitude. James Joyce, ao publicar Ulisses, afirmou que sua obra levaria mais de um século para ser compreendida. E até hoje, mais de cem anos depois, cada novo estudo realizado sobre o livro reserva uma nova descoberta.
Pode até soar contraditório, mas excluindo-se o que foi anteriormente dito, não vejo empecílios para o consumo de auto-ajuda, afinal, isso significa que as pessoas estão buscando alguma forma de leitura. Só repito um alerta que foi feito pelo escritor Luís Fernando Veríssimo em uma de suas crônicas: os livros de auto-ajuda estão ajudando a formar indivíduos cheios de si, egoístas a ponto de acharem que podem passar por cima de qualquer um para atingir seus objetivos. Se isso acontecesse então veríamos a necessidade de um novo gênero de consumo, os livros de "baixa auto-estima", para restabelecer o equilíbrio natural das coisas.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Veríssimo

Já homenageei Drummond, Cecília, Chico, Fernando Pessoa.... Será que faltou alguém nesta lista?
Hoje dedico algumas linhas a Luís Fernando Veríssimo, filho de Érico. Gaúcho, torcedor do Internacional, petista.
Não considero os textos de Veríssimo literatura, propriamente dita. Entretanto tenho que reconhecer a qualidade do seu humor. Nisso o invejo!
O texto que vou postar hoje foi encontrado numa revista Veja de abril de 1989. Apear de velho, o conteúdo ainda parece muito atual.

PONTO DE VISTA

Avolumam-se, com suspeito sincronismo, as denúncias na imprensa sobre a prática do nepotismo entre os políticos brasileiros. Como um dos atingidos pela nefasta campanha, que visa a denegrir a imagem do servidor público no Brasil, a mando de interesses inconfessáveis, me senti no dever de responder publicamente às insidiosas insinuações, na certeza de que assim fazendo estarei defendendo não apenas minha honra __ apanágio maior de uma vida toda ela dedicada à causa pública e à tradição familiar que assimilei ainda no colo do meu saudoso pai quando ele era prefeito nomeado da nossa querida Queijadinha do Norte e eu era o seu secretário particular, depois da escola __ mas também honra de uma classe tão injustamente vilipendiada, a não ser quando pertence a outro partido, porque aí é merecido. A imprensa brasileira, em vez de cumprir seu legítimo papel numa sociedade democrática, que é o de dar a previsão do tempo e o resultado da Loteria, insiste em perscrutar as ações dos políticos, como se estes fossem criminosos comuns, não qualificados, e em difamá-los com mentiras. Ou, em casos de extrema irresponsabilidade e crueldade, com verdades. Outro dia, depois de ler uma reportagem em que um órgão da nossa grande imprensa me fazia acusações especialmente levianas, virei-me para meu chefe de gabinete e comentei: "Querida, por que eles fazem isto comigo?" Mas ela apenas resmungou alguma coisa, virou-se para o outro lado e continuou a dormir, obviamente perplexa. As hienas da imprensa não medem as conseqüências das suas infâmias. Tive que proibir aos meus filhos a leitura de jornais, para poupá-los. Como a função dos quatro no meu gabinete é unicamente a de ler jornais e eventualmente recortar algum cupom de desconto, o resultado é que passam o dia inteiro sem ter o que fazer e incomodando a avó, que serve o cafezinho. Não me surpreenderei se algum jornal publicar este fato como exemplo de ociosidade nos gabinetes governamentais à custa do contribuinte. O cinismo dessa gente é ilimitado.
Mas enganam-se as hienas se pensam que me intimidaram. Não viro a cara para meus acusadores, embora eles só mereçam desprezo, mas os enfrento com um olhar límpido como minha consciência e um leve sorriso no canto da boca. Minha vida como parlamentar é um livro-ponto aberto, imaculadamente branco. Como ministro, não tenho o que esconder. E, mesmo que tivesse, não haveria mais lugar nos bolsos. As acusações de nepotismo são tão fáceis de responder que até meu secretário de imprensa, o Gedeão, casado com a mana Das Mercês, e que é um bobalhão, poderia se encarregar disto. (.........................................)
Mas não vou dar aos meus difamadores a satisfação de reconhecer a pseudo-irregularidade. No meu caso, ela simplesmente não existe. "Nepotismo" vem do italiano "nepote", sobrinho, e se refere às vantagens usufruídas pelos sobrinhos do papa na Corte Papal, em Roma. Bastava ser sobrinho do papa para ter abertas todas as portas do poder, sem falar de bares e bordéis. "Sobrinho" não era um grau de parentesco, era uma profissão e uma bênção. A corte eclesiástica era dominada pelos "nepotes", e, neste caso, a corrupção era evidente. Qual o paralelo possível com o que acontece no Brasil hoje em dia? Só no fantasia de editores ressentidos, articulistas mal-intencionados e repórteres maldizentes as duas situações são comparáveis. Desafio qualquer órgão de imprensa a vasculhar meus escritórios, meus papéis, minha casa, meu staff, minha vida e encontrar um __ um único! __ sobrinho do papa entre meus colaboradores. Não há sequer um sobrenome polonês!
Exijo retratação.

Luís Fernando Veríssimo é pseudônimo
Veja, 12 de abril, 1989.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

GASTRITE

"Quem cala, falha sempre em finura e gentileza de ânimo; o calar é um pretexto; guardar consigo a injúria é formar necessariamente um péssimo caráter, arruinando de vez o estômago. Todos aqueles que silenciam sofrem do estômago."
NIETZSCHE
O calcanhar de áquiles dos jornalistas - breve nota sobre a doença
Uma dor de estômago (mais que física), comparada aquele sentimento que não deixa os culpados dormirem um sono tranquilo, geralmente acompanhada de azia e queimação. Em casos mais extremos, pode provocar ânsia ou até mesmo vômito. GASTRITE.
Quem sofre da dita cuja é o que? Gástrico? Gastréico? Gastrítico? Sempre quis saber isso. Mas a resposta correta é quem sofre de gastrite é engolidor de sapo, descacador de pepino e abacaxi. Anda levando muito desaforo pra casa!
Trata-se de uma doença muito comum entre os jornalistas, podendo manifestar-se ainda durante o período pré -vestibular. Caso o sujeito não sofra deste mal há que se desconfiar do seu comprometimento profissional.
As causas mais frequentes que desencadeiam a gastrite são o envolvimento passional desnecessário em problemas que não lhe dizem respeito DIRETAMENTE (a crise está lá do outro lado do mundo e você não é mártir, nem santo, nem o novo messias para tomar as dores dos outros como assunto seu), a frustração diante da impossibilidade de revolucionar tudo sozinho, o consumo excessivo de café, alimentação inadequada, e fatores que também atingem outras camadas da população, como baixos salários e jornada de trabalho prolongadas.
Apesar dos indivíduos desta classe terem reputação de estourados, acabam guardando para si o que mais lhe incomoda. Depois ficam remoendo, remoendo, remoendo o que foi guardado até que os sintomas anteriormente relatados se manisfestem.
Complexos à base de ranitidina, chás e remédios caseiros - não me lembro de nenhum no momento, e, ademais, já abandonei este tipo de tratamento - amenizam os sintomas, mas o alívio só será alcançado se você conseguir "desencanar'" daquilo que te aflige.
Gastrite é praticamente incurável, a não ser que você consiga mudar completamente sua personalidade, o que, convenhamos, é impossível. Tratamentos existem, mas o induzirão a uma vida em que lhe será proibido tudo aquilo que mais gosta de comer ou beber.
Este texto não é uma obra de ficção e foi totalmente inspirado pela doença.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

AS QUATRO

Não, não é poesia. É prosa! "Não canse quem lhe quer bem". Inspire. Respire. Se inspire. Hoje é uma noite daquelas em que as emoções extravasam. Quero uma resposta: eu canso? "Quanta amargura!" Mas ainda tenho meu bom humor. Tenho ternas lembranças de amores mal vividos e de amizades que se desentrelaçaram nem sei bem porquê. Ao Drummond restou um cão, fiel companheiro. À mim, nem isso...
Ah, se não fosse por elas, por sua singularidade, por seu riso diário, às vezes beirando a insanidade, ou seu choro, em momentos, aparentemente sem motivo, eu desejaria morrer na praia.
Eu encontrei a amizade verdadeira. Não importa se efêmera, em algum instante ela foi verdadeira. E esta me foi a prova definitiva de Deus. Sou agnóstica, confesso, mas tenhos meus momentos de devoção.
Pode até ser culpa do álcool, porém, contudo, entretanto, no entanto (adoro conjunções!), desperta um sentimento real.
Eu posso dizer que amo vocês sem medo de ter minha sexualidade comprometida, porque "sou Pagu indignada no palanque" !
Esta é pra vocês (Dani, May, Déia, Marilisa e Rê). Meu maior presente, minhas palavras...

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Entrevista com Deus

Você sabe o que, de fato é um cigarro?

É um cilindro com uma brasa em uma ponta e um idiota na outra.


O Guirado, um amigo que me atura há quase dez anos, já deu seu primeiro grande passo rumo à imortalidade: escreveu um livro. Eu, para promover a obra literária do meu colega e para agradá-lo um pouco, visto que o sujeito parece nunca se cansar de elogios, prometi – sim, e isto foi de livre e espontânea vontade – escrever uma breve crítica sobre o dito cujo.
Adianto aos poucos leitores que visitam este espaço que possuo pífio embasamento para avaliar a obra em questão e, que algumas das opiniões emitidas podem estar contaminadas por sentimentos pessoais.
O nome do livro é "Entrevista com Deus" (não sei se é definitivo), e, como diz o título, conta a história de um jornalista que encontra o "Ser Supremo" assim meio por acaso, e tem a chance de esclarecer alguns mistérios da humanidade.
Do ponto de vista literário Entrevista com Deus remete ao desbravador Ernest Hemingway (nobel de literatura em 1954), marcado por uma linguagem direta e repleta de diálogos.
Já do ponto de vista filosófico, e esta é a parte mais interessante, identificamos características de um dos maiores, senão o maior, poeta brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Pessimismo e humor são características que sempre estiveram presentes na poesia de Drummond e delineiam a personalidade de Alvarenga, um jornalista em crise que tem a oportunidade única de questionar o Criador com sete perguntas.
No começo da leitura é possível mesmo ser transportado para um poema específico de Drummond, "A Máquina do Mundo" – uma verdadeira epopéia literária, universalmente considerado uma das melhores poesias do século XX.
Embora os desfechos sejam diferentes, também em "A Máquina do Mundo" o eu lírico tem a chance de conhecer certas "verdades cósmicas".
Passada a agonia de não saber o que perguntar, as questões de Alvarenga são, aparentemente, simples. Mas Deus não entrega a resposta de mão beijada. Propõe ao jornalista uma reflexão e mostra que a explicação para o que parece inatingível está ao seu redor.

Além da história ser interessante e original, a leitura é fácil e agradável (mesmo executada pela tela do computador!).

Bem, espero não ter dito nenhuma besteira. Àqueles que tiverem a oportunidade de prestigiar a obra em primeira mão como eu, uma excelente leitura!


domingo, janeiro 02, 2005

Níver do Zé

Foi na segunda-feira passada. José Aurélio Paschoal completava 28 anos. Como comemorar o aniversário de uma pessoa tão diferente, e que nos nossos aniversários escreve palavras tão singelas de conforto e esperança, como desejar uma morte tranquila ao aniversariante ou chamá-lo (a) de velho, chato e encalhado?
Aproveitamos o fato de se tratar de um grandissíssimo medroso e pregar-lhe uma peça... Preparamos uma MACUMBA!!!! Mas foi só de brincadeirinha... E não foi que o tosco adorou.

Jardins

Fiquei praticamente uma semana sem atualizar o blog e, durante este tempo estive a procura de textos, crônicas, artigos e até mesmo poesias que fossem publicáveis. Achei coisas interessantes, entre elas o texto que segue abaixo. A data em que foi produzido eu não tenho certeza, mas deve ter no mínimo três anos....

Saudações, companheiros que apreciam a boa literatura!

Outro dia estava eu procurando uma crônica do Rubem Alves na internet – era em especial uma crônica do livro "O Retorno e Terno", na qual o autor define a amizade da forma mais plausível e poética que um escritor já conseguiu. Não achei a crônica que procurava especificamente, mas achei esta (que segue abaixo), chamada "Jardins" e tirada do mesmo livro, também belíssima, que inclusive conta com recheio especial: poema de Cecília Meireles (minha favorita).
Bom, o que tem a ver, afinal de contas, eu enviar este texto a vocês? É que ontem, quando eu despertava – às 3 da tarde, registre-se – para mais um enfadonho Domingo, liguei a TV e o que passava era um filme com o Kevin Costner, chamado "Waterworld" ou coisa assim. Fato é que o filme, de certa forma, era a personificação do "poema-crônica" do Rubem Alves: um mundo sem o verde das plantas ou o colorido das flores, aquele mesmo mundo de ficção científica que causa horror evocado por Alves em "Jardins".
Um texto e um filme mudaram a percepção que eu tinha da natureza. Tudo de repente ficou mais harmônico e necessário. Como o mundo é belo! Leiam a crônica, assistam o "Waterworld", "Mad Max", ou qualquer coisa do gênero. Talvez vocês pensem que escrever sobre tal evento seja besteira, mas eu não poderia deixar de compartilhar isso com pessoas que ainda são sensíveis à literatura.

JARDINS

"Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros...
Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer : pássaros sem asas... São como canções, que nada são até que alguém as cante;como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia.
O terreno ficava ao lado da minha casa, apertada, sem espaço, entre muros. Era baldio, cheio de lixo... Mas a imaginação é coisa mágica, tem o poder para ver e cheirar o que está ausente.
Um dia o inesperado aconteceu. O terreno ficou meu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu. Não chamei paisagista. Queria um jardim que falasse. Pois você não sabe que os jardins falam? Quem diz isto é o Guimarães Rosa. (... )
Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Eu queria saber ressuscitar o encando dos jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas. "Em busca do tempo perdido..."
Uma pessoa comentando este meu jeito de ser, escreveu: "Coitado do Rubens! Ficou melancólico." Não entendeu. Pois melancolia é justamente o oposto: ficar chorando as alegrias perdidas, num luto permanente, sem a esperança de que elas possam ser de novo criadas.
Aceitar como palavra final o veredito da realidade, do terreno baldio, do deserto. Saudade é a dor que se sente quando se percebe, a distância que existe entre o sonho e a realidade! Mais do que isto: é compreender que a felicidade só voltará quando a realidade for transformada pelo sonho, quando o sonho se transformar em realidade. Por isso um paisagista seria inútil. Pra ele fazer o meu jardim ele teria que sonhar os meus sonhos.
Nada me horroriza mais que os filmes de ficção científica onde a vida acontece meio aos metais, à eletrônica, nas naves espaciais que navegam pelos espaços siderais vazios... E fico a me perguntar sobre a perturbação que levou aqueles homens a abandonar as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas... Com certeza um demônio qualquer fez com que se esquecessem dos sonhos fundamentais da humanidade. Com certeza seu mundo interior ficou também metálico... E com isso a esperança do Paraíso se perdeu.
Este pequeno poema de Cecília Meireles me encanta, é o resumo de uma cosmologia, uma teologia condensada, a revelação do nosso lugar e do nosso destino:
"No mistério do Sem-fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o Planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta."
Metáfora: somos a borboleta. Nosso mundo, destino, um jardim. Resumo de uma utopia. Programa pra uma política. Pois a política é isto: a arte da jardinagem aplicada ao mundo inteiro. O Universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o Paraíso. "
( Rubem Alves - O Retorno e Terno - crônicas )

P.S.1: Desculpe a mensagem ser tão extensa ( até excluí outros comentários menos relevantes!).
P.S.2: A boa literatura à qual me refiro é por conta do Rubem Alves ( só pra ficar claro