segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Viva o coronelismo!


coronel Posted by Hello


"É proibido proibir"

Caetano Veloso


Que terapia que nada! O nosso problema é muita paranóia pra pouca perseguição. Tô falando de perseguição política, repressão, censura, elementos que fazem a gente esquecer um pouco da nossa vidinha medíocre e se ocupar com ideais mais nobres.
Eu tenho um monte de amigos que assim como eu acham a vida uma merda (ainda bem, odiaria estar sozinha neste barco!). Nós estamos sofrendo é de falta de perseguição.
Mas eu achei a solução pros nossos males. Vamos colocar a extrema direita de volta ao poder. Assim teremos de quem falar mal, e eles virão atrás de nós por isso. Quem sabe até sejamos presos!
Não será tão difícil. O primeiro passo já foi dado. O Severino Cavalcanti já tá lá na Câmara, arquivando processos contra o executivo mediante aumento de salário para seus comparsas. É só arrumar um aliado à altura para o Senado... eles arquitetam um super golpe e pronto! Viveremos novamente um período político nebuloso, do ponto de vista das liberdades democráticas, porém, inspirador para artistas e intelectuais.
Afinal, como disse um grande amigo meu, o Guirado, "o Chico não seria Chico sem a ditadura".
É sério. Tão pensando que é brincadeira?! Olha só pra Cuba. Destaque na música e na literatura. Tirem o Fidel de lá e aquilo fica pior que a Bahia!!!

VIVA O CORONELISMO!!!!

domingo, fevereiro 27, 2005

Perseverar


Posted by Hello

"Se não houver frutos,
Valeu a beleza das flores;
Se não houver flores,
Valeu a sombra das folhas;
Se não houver folhas,
Valeu a intenção da semente."

Henfil

Acho que os pais deveriam esperar dos filhos exatamente o que diz as frases acima... Tô tentando esperar isso da vida! Perseverar sem sensacionalismo, sem mediocridade.
Falando em pai, ele, Henrique Filho, o Henfil, também foi um grande pai - além é claro de um grande cartunista, apresentador, crítico do governo militar, e também um grande homem.
Eu conheci o Henfil meio por acaso. Foi no segundo ano de faculdade. Ele acabou virando base para o tema do meu seminário: HQs, histórias em quadrinhos.
Pra não ficar só no enlatados norte-americanos, como super homem, homem aranha, capitão américa (Eca!) - nada contra estes quadrinhos, que fique claro - decidi procurar algo que fosse genuinamente brasileiro, que refletisse o país. Encontrei o Ziraldo e o Henfil, entre outros, mas estes foram os que mais me agradaram.
Ambos integravam o legendário PASQUIM, o veículo mais audaz do período militar. Ah! uma máquina do tempo! Seus personagens eram incrivelmente brasileiros: tinha o tipo desmilinguido, o tipo ingênuo, o malandro, o safado. As temáticas, a política, a história, as tradições, o meio ambiente. Os desenhos do Henfil eram sem cor e pobre de traços, não por falta de técnica, mas a estrutura da composição refletia a pobreza de suas "criaturas", que eram nordestinas.
Após ler os feitos de Henfil, ao conhecer o vigor com que lutava pelo que era justo, eu quase não podia acreditar que ele era hemofílico - assim como seu irmão, o sociólogo Betinho, até a canção que se tornou famosa na voz de Elis relata "que sonha com a volta do irmão do Henfil". Ambos morreram vítimas da Aids, doença contraída em transfusões de sangue. (quem não souber o que é hemofilia vá se informar, porque eu não vou ficar explicando, não sou agente de saúde!).
Bom, o importante é que Henfil e Betinho foram dignos. Não fizeram sensacionalismo da doença, nem nas campanhas que compravam, muito menos em causa própria. Não foram medíocres. Foram seres humanos acima da média. Valeu pela lição!

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

mim II - o retorno


eu de novo Posted by Hello
Continuando a sessão nostalgia, com fotos desfocadas e desbotadas pelo tempo, outra imagem de quando eu era criança e gostava dos Menudos - até aprendi a ler com auxílio de um álbum de figurinhas dos fulanos. Meu passado é negro! Mas que atire a primeira pedra quem nunca rebolou ao som de "não se reprima/ não se reprima..."
Este blog acaba de bater um recorde de audiência: quatro comentários em dois dias. Foi só eu começar a falar dos meus problemas com minha mãe e pronto, isso aqui ficou parecido com programa da Márcia... hahahaha. "Minha mãe não me entende!"
Mas quem não entendeu mesmo o post foram os leitores. Gente, presta atenção, em nenhum momento eu disse que era feia, também não disse que era bonita... na verdade, neste momento isso é tão irrelevante. Eu nem queria estar discutindo isso aqui. Só disse que eu não sou a filha que minha mãe esperava. Ela não faz segredo disso.
Pra minha mãe, eu deveria estar casada. Quem sabe até com filhos. Devia ter dedicado menos tempo aos estudos e mais tempo com coisas consideradas por mim fúteis - por exemplo, frequentar academia de ginástica ao invés de aprender outro idioma.
Já fiz coisas inacreditáveis só pra contrariá-la. Fiquei um tempão sem pintar o cabelo porque ela achava que eu devia fazê-lo. Desisti de uma operação de miopia e fiquei quatro anos sem usar lentes de contato só pra ela não esquecer nem um minuto que eu usava óculos. Colocava jeans e camiseta velhos para compromisso importantes. Foram tantas afrontas.
Parei com as afrontas. Os comentários e olhares de reprovação diminuíram, mas ainda não cessaram completamente. Estas coisas não me ferem mais. Ela é uma boa mãe. Melhor do que eu como filha.
Agora, vocês que ficam lendo as babaquices que eu escrevo, parem com essa de compaixão. Todo comentário elogioso que for dirigido à minha pessoa e não aos meus textos, não será levado à sério - a não ser que digam que eu sou engraçada, porque isso eu sou mesmo e não admito ninguém dizer o contrário. No dia em que não rirem mais das minhas piadas, juro que pulo da ponte!

P.S. 1: Podem comentar porque eu gosto de IBOPE!

P.S. 2: Ai de quem não entrar na linha!

P.S. 3: O poema que eu postei ontem era do Drummond.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

mim


eu aos dois anos de idadePosted by Hello

Todo mundo é bonitinho quando é criança, né? Olha só eu, dá pra ver que fofinha, apesar da foto desfocada. Fotogênica, fazendo pose de gente grande e tudo...
Eu penso na minha mãe toda vez que vejo esta foto. Fico imaginando a decepção dela. Criou a filha pra ser uma mocinha jeitosa, bonitinha, delicadinha e olha o que eu me tornei... Quem convive comigo sabe do que eu estou falando! Onde será que as coisas destrilharam?

POEMA DE SETE FACES

Quando eu nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos!, ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás das mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos,
o homem atrás dos óculos e do bigosde.

Meu Deus por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo, vasto mundo,
mais vasto é o meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

domingo, fevereiro 20, 2005

Poetastro


Posted by Hello

"Não são meus gestos que descrevo, mas minha essência."
Montaigne

Ainda não perdi a capacidade de me auto surpreender. Falo isso devido à minha mania de ficar escarafunchando o passado, sei lá, de repente numa tentativa insana de melhorar o presente. Às vezes remexer no que já se foi pode ser decepcionante, mas em outras pode ser agradável ou revelador. As coisas podem parecer melhores ou piores com o efeito do tempo. Vejamos...
Encontrei um poema! Sim, eu que não sei nem rimar direito, em algum momento escrevi um poema. À primeira vista tive sérias dúvidas quanto ao material em questão ser mesmo de minha autoria. Achei-o até que simpático. Pesquisei na internet e constatei que havia sido eu mesma.
Este poema remonta à uma época em que eu pensava que podia ser poetisa porque era triste. Acho que eu descobri que a coisa não funciona bem assim...

POETASTRO

Lágrimas não são versos
Choro não é estrofe
Solidão não faz rima
Poesia é alegria de quem tem amor
Teu rosto sofrido
não inspira uma redondilha
Nem todo poeta carrega em si um coração partido
Uma árvore velha e seca
Uma tarde de outono
Manhã sem canto dos passarinhos
Dormir com os pés frios

Não sei o que é isso. Só sei que sou eu. Minha essência.

P.S.: Após a leitura deste post, recomendo um poema de Fernando Pessoa. É como tomar leite para anular o efeito do veneno.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Memória


memória Posted by Hello

"E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé"

DESCAMINHOS

Nem sempre é fácil achar o caminho de volta. A estrada das origens pode perder-se entre os trilhos do esquecimento...
Esta semana voltei a um lugar que não visitava há anos. O lugar onde ficou minha infância, juntamente com os dias mais felizes da minha vida - o sítio em que meus avós moravam.
Hoje praticamente ninguém mora mais lá. Apenas meia dúzia de habitantes que ainda resistem ao conforto e facilidades da vida urbana (até minha avó sucumbiu e mudou para a cidade depois de ficar viúva).
Foi difícil achar o caminho, tudo está tão diferente. Quando eu era só uma menina aquilo tudo era tão imenso face aos meus olhos de criança. Sombras, fantasmas, nem isso.
Pelo menos dois domingos ao mês eu sabia que ia visitar minha avó. Que ia encontrar meus primos, que brincaríamos o dia todo, que visitaríamos a cachoeira - ah, a gente podia nadar à vontade, porque a água era limpa, não havia riscos de afogamento e nem estava preocupado se íamos ficar gripados no dia seguinte - e o mais fascinante, lá eu entrava em contato com todos aqueles animais que jamais poderia criar na minha casa.
Lembro de tudo isso com muita tristeza porque é o fim da família matriarcal. Todos estavam lá porque ELA, a minha bisavó, carinhosamente chamada de "madrinha" vivia na "casa central", semelhante à foto acima. A mulher mais generosa que já conheci. (prometo dedicar um post só pra ela).
Mas ela se foi, como muitos se foram.
Eu não tenho sete irmãos, como acontece com meu pai e minha mãe. Nem sei se terei filhos ou sobrinhos. Mesmo que os tivesse, duvido que aceitassem passar o dia no campo ao invés de visitar um parque temático, por exemplo. É o fim da vida bucólica!

terça-feira, fevereiro 15, 2005

TÉCNICOS


cadente Posted by Hello

"Por que cometer erros velhos se há tantos erros novos a cometer?"
Bertrand Russel

Semana cheia de erros, furadas, mancadas... novos ou velhos. Eu deveria falar de coisas mais importantes, mais essenciais que o futebol, esporte das massas. Entretanto, me nego. Deveria falar da zebra ocorrida nas eleições para a presidência da Câmara: daria até um manifesto, intitulado "A volta do malufismo" ou "O malufismo sobrevive"... Não quero!
Não quero porque as "zebras" deste governo me desolam, me magoam, me deprimem. Colocam em xeque tudo aquilo que a creditei ser possível um dia. Desde que me entendo por gente, espero a ascensão de um governo de esquerda, legitimamente eleito pelo povo. O restabelecimento da justiça social. A sociedade igualitária. O país das maravilhas, enfim...
Não sei se é armação da imprensa que faz tudo parecer tão esdrúxulo (em parte, com certeza). Não sei se no fundo, partidos políticos e figuras políticas são todos farinha do mesmo saco. Ainda quero crer que não!
Enquanto isso na Sociedade Esportiva Palmeiras a cabeça do técnico Estevam Soares é servida numa bandeja de prata...
Ótimo. Já era tempo. Em outras condições defenderia a permanência do técnico, mas o Fred Flintstone cover deu provas mais que suficientes que não desejava permanecer no clube. Corinthiano enrustido!
Primeiro escalou o Claudecir, aquela praga, para o jogo que valia vaga na Libertadores, contra o Tacuary. Manteve o jogador em campo quando a péssima atuação do fulano revoltava até os corinthianos, que deveriam estar contetes com a mediocridade da partida.
Depois, aquela palhaçada de domingo, envolvendo o Diego Souza. Se ele não quisesse ser demitido nem deveria escalar o Diego Souza.
Bom, toda essa ladainha é para advertir os dirigentes que a contratação de Geninho ou Muricy Ramalho para o lugar de Estevam é um erro imperdoável. Contratem o Péricles Chamusca. Sim... aquele que foi campeão da Copa do Brasil pelo Santo André, dirigiu o São Caetano e agora está esquecido no Goiás. Além de já ter trabalho com alguns jogadores que atuam no Palmeiras atualmente, o nome dele é ótimo para se fazer trocadilhos!

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Valentine's


Valentine's Posted by Hello

"O amor é quando a gente mora um no outro"
Mário Quintana

14 de fevereiro, dia da execução de São Valentim - um padre romano do séc. III que casava as pessoas das classes menos favorecidas, contrariando as leis do Imperador Claudius II. Por este motivo a data é considerada em muitos países como o dia do AMOR, em todos os sentidos da palavra. Até os estadunidenses celebram São Valentim.
Bonito né? Arriscar a vida pela felicidade conjugal dos outros... É que naquela época não havia divórcio. Caso contrário, duvido que alguém botasse o pescoço na reta por uma instituição que já se provou fadada ao fracasso. Consultem as estatísticas.
Tenho muitas teorias sobre o porquê de casamentos não darem mais certo, entretanto, a que mais gosto é a da independência feminina. Antigamente a mulher não conseguia de desprender do marido porque dependia dele em todos os aspectos. Agora acabou a submissão. Paramos de engolir sapo, de aguentar desaforos. É o fim de Amélia!
Hoje também foi dia de voltar às aulas, e consequentemente, sacanear os bixos (só um pouco de guache, nada que um banho não resolva). É o último ano que faço isso. Em breve estarei formada e terei um número de MTB pra ficar exibindo por aí... Como se a profissão de jornalista representasse alguma vantagem!
Veja quanto assunto pode render falta de assunto!
Obs: Tô pensando seriamente em finalizar os posts com frases pela metade... isso me lembra um programa de esportes que os lances eram cortados bem na hora que a bola ia entrar no gol...

sábado, fevereiro 12, 2005

Mosaico


pietá Posted by Hello

"A música me leve como um mar amargo
à minha murcha estrela
sob um teto de bruma ou por éter largo
vou soltando a vela..."

Baudelaire

Quando as coisas vão bem tudo parece acontecer como a gente planejou, mesmo que não tenha planejado. Confuso? Sim, um pouco, é verdade... O que estou querendo dizer é que coisas boas atraem coisas boas e vice-versa, movido por um mecanismo que a filosofia, a magia, a psicologia, enfim, uma gama de especialistas tenta desvendar.
No momento as coisas não estão dando muito certo não. Isso atrapalha tanto o curso da vida. Geralmente, quando me sinto extremamente feliz ou triste ou chateada, ou ainda, amargurada, basta abrir um livro de poesias - Drummond ou Cecília - e eu acho as palavras exatas que estava procurando. Elas me confortam, me dão esperança... Nem isso consigo.
Os versos que postei estão em total desacordo com a foto. A imagem é a estátua Pietá, do magnífico Michelângelo. O poema foi retirado do livro "As flores do Mal", de Baudelaire. Eles tem nacionalidades diferentes, nasceram em épocas diferentes, e sobretudo, expressaram com sua arte visões de mundo distintas.
Michelângelo é renascentista. Pregou a volta da estética clássica num dos períodos mais ricos vividos pela filosofia, literatura e artes plásticas em toda a história. Baudelaire era poeta de fim de século, pessimista. Dizem até que suas palavras suscitou o suicídio de centenas de jovens em toda a Europa.
O mosaico de sentimentos e memórias pelo qual estou no passando agora seria facilmente explicado por Freud, o pai da psicanálise - ciência necessária e incoveniente; "eu vou pagar a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou" - seja lá qual fosse o diagnóstico.
Tudo que fazemos é reflexo de alguma coisa. De loucura, de falta de amor, de fuga.... Não quero falar sobre nada disso. Talvez numa outra oportunidade.

sábado, fevereiro 05, 2005

Carnaval


"piove, piove... fa tempo que piove aqui!"


Assim como o IPVA e o IPTU, no começo de todo ano ele chega e parece que a gente só consegue tocar mesmo a vida direitinho depois que ele passa. Não tô falando de imposto não. Tô falando do CARNAVAL... Alegria de uns, e martírio de outros.
Este ano, novamente o Carnaval chegou junto com chuva. O temporal parece que deu trégua, mas a folia continua.
É, de fato, por enquanto, não está chovendo. Mas há dias venho querendo falar da chuva (o céu desabou este mês). Por isso escolhi a foto e também, porque a chuva traduz bem meu estado de espírito nesta época do ano: "Carnaval, carnaval... Eu fico triste quando chega o carnaval".
O versinho é de Luís Melodia. Confesso que nunca ouvi o autor da canção interpretando-a. Aliás, este é o único verso que conheço, porque o grupo Titãs inseriu este trechinho incidentalmente em outra música. Portanto, não sei direito o que acontece com Luís Melodia pra ele ficar triste no Carnaval.
Também não sei porquê fico triste no Carnaval. Sei que não é apenas o fato de eu odiar axé e derivados. O espírito do carnaval me deixa ainda mais melancólica.
Talvez seja porque a alegria, a insanidade, a imprudência de quem cai na folia me incomodam. O fato de eu não poder me divertir com o vulgar, o banal, o pitoresco. Tais sentimentos remontam àquelas velhas questões: Quem sou? , como sou?....
Tudo vai passar. O carnaval, o meu "bode". À tão abençoada e refrescante chuva, em breve, sucederão meses de seca. Que a água possa dar um banho nas nossas almas e que o ano finalmente comece no Brasil!

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Inferno


Divina Comédia Posted by Hello

Acima, uma visão dantesca do inferno...

Primeiramente, um aviso aos meus raros leitores: por tudo que é mais sagrado, quando deixrem comentários, identifiquem-se. Se não usarem o nome de batismo usem um apelido que eu conheça (viu pig! quem é você? Faça contato! Rs).... Lembrando que comentários são sempre bem vindos!!!!
Bem, hoje, só para variar vou postar outro artigo de minha autoria. Estava temerosa quanto à escolha do título. INFERNO não é palavra legal de se ler ou ouvir, mas, não achei substituta à altura.... De onde tiro essas idéias? Adoraria saber!

O inferno são os outros

Não sei como pode ainda hoje tantas pessoas conceberem uma imagem mítica do inferno. Muito fogo, e consequentemente, uma atmosfera cuja temperatura não é lá muito agradável, cheiro de enxofre e trabalhos pesados supervisionados por ninguém menos do que o próprio Satã, representado por uma figura vermelha e com chifres. Tudo muito medonho!
Esta idealização do inferno vem desde a Idade Média e perdura até nossos dias. Na minha infância ouvi muito minha mãe falar que fim eu teria se não fosse uma boa menina. As ameaças de ir parar num lugar tão horrendo não só amenizaram meus problemas de comportamento como custaram muitas noites de sono aos meus pais. O medo me provocava insônia.
Assim como minha mãe fazia, muitos pastores e líderes religiosos tentam conseguir a obediência dos fiéis prometendo-lhes um fim não muito aprazível se não se comportarem direito. Geralmente, o objetivo de quem promete o inferno são coisas simples, ligadas ao universo da própria religião, como manter a castidade até o casamento ou manter as parcelas do dízimo em dia, além de propostas válidas para todos, como não matar e não roubar. Isso deve ser eficaz, afinal as igrejas estão sobrevivendo...
Mas obter a obediência e manter a justiça através do medo nem sempre dá certo. Ou o inferno acima descrito não é destinado aos grandes ladrões – e me refiro aqueles de colarinho branco, bandido credenciado e beneficiado pela lei, classe muito bem representada pelos políticos – ou eles não tiveram nem mãe nem religião.
Imagine a cara do fiel, que levou uma vida miserável, e que por um tropeço aqui e ali foi parar no inferno, quando encontrar aquele figurão que vivia aparecendo nos jornais, acusado de meter a mão no dinheiro público. Revoltante, não?
Se existe justiça após a morte o inferno tem que ser dividido em departamentos. O melhor castigo para um corrupto, na minha opinião, seria ele enfrentar uma fila do INSS, sem fim. E durante a longa espera, ele ia repensar tudo que fez durante sua vida, tudo que usufruiu às custas do dinheiro público, sabendo que iria passar a eternidade ali em pé.
O inferno não é um lugar mitológico. O inferno é o confronto da sua consciência com seus erros, suas fraquezas, seus preconceitos, enfim, tudo aquilo que você tenta ignorar. Como disse Sartre, "o inferno são os outros".