sexta-feira, abril 22, 2005

Letra de blues


XX Posted by Hello

“Se Deus agora me visse
Abaixaria seus olhos
E ficaria ainda mais triste”


Cecília Meireles


Parece letra de blues: “Pra quem não sabe amar/ fica esperando alguém que caiba nos seus sonhos”. E vai além. É não se permitir ser amada. Tem um choro entalado aqui na minha garganta. Eu sinto. Eu sinto muito.
Eu sinto tanto não saber nem dizer “NÃO” direito. Que NÃO mais indigno, superficial, mau caráter, covarde... Um NÃO vazio.
E essa sensação vai passar, mas vai demorar pelo menos dois dias. Não adianta tentar se distrair com outra coisa porque o pensamento está fixo nessa idéia. Meu Deus, como você é horrível! De que adianta tanta boa vontade se é incapaz de um gesto de amor?
O choro está próximo, porém não vai chegar. Nunca vem. Quase nunca vem. Um soco no estômago, uma pontada na testa, um aperto no coração. Daqui 24 horas isso passa e enquanto não passa devora. Devora a alma.
Álcool, alucinógenos também não resolvem. Nem um cigarro adianta acender. Ele não terá aquele efeito, aquela sensação de justiça feita, aquele conforto momentâneo, como o qual você perdeu em algum dia do seu passado, ao descobrir que o mundo era o MUNDO.
Dormir. Você pode dormir, mas mesmo que não se lembre, vai sonhar e isso vai ser tortuoso, porque estará preso sem saber. Pode ser um pesadelo, e então será pior ainda.
Não há como fugir. Esta é sua essência. Você é covarde, insensível e mesquinha. Você é só. Agora você está só com sua consciência.
Reprovo meus atos, entretanto, não posso controlá-los. Sinto muito, não queria ferir ninguém. Vivo a fenecer.

sexta-feira, abril 08, 2005

Você mudaria sua vida se pudesse?

Quantas vezes você já pensou em largar tudo? Em desistir? Pediu para o mundo parar para poder descer na próxima estação? Sentiu vontade de sumir ou de morrer?
Quantas vezes você parou e indagou: por quê fiz isto ao invés daquilo?
Há épocas em que todos os dias, o meu primeiro pensamento pela manhã é “por quê ainda estou aqui?”. Há momentos em que desejo a morte, porque só ela parece ser capaz de apaziguar toda a dor que eu sinto. Às vezes, quando estou sozinha na escuridão do meu quarto, vagando da imensidão da minha mente, fico imaginando como estaria agora se tivesse feito tudo aquilo que planejaram por mim e eu, simplesmente, chutei para longe.
Estava tudo estipulado. Eu devia casar, ter filhos, casa com quintal, cachorro e quem sabe até alguma ave exótica. Teria um carro bem grande para o conforto das crianças. Praticaria exercícios e saberia de cabeça o valor nutritivo dos alimentos. Não teria nenhum vício, nem café tomaria, porque haveria de ser exemplo para minha prole.
Não ficaria doente com os problemas do mundo. Não haveria preocupações com o meio ambiente. Eu mesma desconheceria que os recursos do planeta não serão suficientes para a minha descendência. O importante seria a minha geladeira cheia.
Jamais ficaria especulando sobre a vida de gente pública, principalmente políticos, porque política é “sujeira”. No máximo, falaria mal da vizinha, ridicularizaria o corte de cabelo de alguém.
Minha grande dúvida existencial seria escolher a cor da cortina da sala e a escolha mais difícil da minha vida seria o papel de parede do quarto das crianças.
Não usaria meu tempo vago para escrever romances feministas e autobiográficos, ao invés disso, me aventuraria no perigoso mundo da culinária na tentativa de descobrir novos sabores de sorvete.
Sentar num boteco e tomar uma cerveja com as amigas? Impensável! Estaria ocupada demais indo a chás beneficentes com a minha sogra.
Mas ao final de cada dia um filho adorável ou meu esposo carinhoso teriam para comigo algum gesto que faria sentir ao menos lembrada. Tudo perfeito. Tudo nos trilhos.
Esta é a vida que muitas mulheres levam. E são felizes assim. Não duvido disso. Mas não foi assim comigo e não me arrependo.
Se eu tivesse a chance de mudar tudo uma, dez, cem vezes, faria tudo de novo. Mesmo sabendo dos percalços. Mesmo consciente de que a solidão foi minha plena companheira. Mesmo na certeza de que foi o caminho mais doloroso, houveram momentos, rápidos e fulgazes, confesso, porém belos. E como diria Rubem Alves, “um único momento de beleza, por efêmero que seja, justifica a vida inteira”.

sábado, abril 02, 2005

Efeito borboleta


Dani Sartori Posted by Hello


Dia desses eu fiquei tão triste, mas tão triste, que quase escrevi um poema. Os motivos pra tanta tristeza eram muitos - banais, porém muitos! Levar um fora, ficar sem grana, ter que pedir dinheiro pro pai (na minha idade!), some-se a isso TPM, trabalhos da faculdade e pronto: dá BODE TOTAL.
Sempre que estou triste fico reflexiva e filosófica. Por isso tenho idéias para textos, livros, e às vezes, até poemas. É como o efeito borboleta - que nem o filme.
A teoria do caos diz que um simples bater de asas de um inseto no Ocidente pode causar uma catástrofe de proporções inimagináveis no Ocidente. Parece excessivamente paranóico, mas não acho que seja. Uma ação impensada, um ato brusco, uma palavra mal colocada pode aniquilar um indivíduo e até derrubar um Estado. Lembram do lendário botão vermelho que poderia desencadear a Terceira Guerra Mundial. E se aguenta o apertasse, assim, por engano???
Bem, abaixo, vou postar o resultado do efeito borboleta em mim. Se eu não tivesse saído de casa num determinado dia. Se eu não tivesse ligado o computador. Enfim, se tanta coisa...

Será que foi algo fiz ou que deixei de fazer?
Talvez fora algo que eu falei
Quem sabe o meu jeito de andar
Ou até o modo como ri

Será que não sou bonita o suficiente?
Talvez não tenha charme feminino
Quem sabe a cor do meu cabelo
Ou até o tamanho do meu pé

Será que foi o perfume que estava usando?
Talvez porque seja intelectual
Quem sabe até burra demais
Ou até muito independente

Será porquê eu uso óculos?
Talvez porque seja muito magra
Quem sabe a minha voz irritante
Ou até o meu sarcasmo

Será que é porque sou palmeirense?
Talvez porque eu fale demais
Quem sabe foi o meu pé chato
Ou até tenho mau hálito

Como podem ver trata-se de algo bem primário, amador mesmo! Mais uma tentativa de responder aquela velha questão "O que há de errado comigo?". O mundo estaria muito mais seguro sem os existencialistas. Enquanto eu não começo a análise, a pergunta permanece.

P.S.: A foto acima foi tirada pela Dani. Tá aprendendo moça!