quarta-feira, dezembro 22, 2004

Fernando Pessoa


"Há doenças piores que as doenças,
há dores que não doem, nem na alma,
mais que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais que as que a vida nos traz,
há sensações sentidas só com imaginá-las
que são mais nossas do que a própria vida.

Há tanta coisa que , sem existir,
Existe, existe demoradamente
e demoradamente é nossa, e nós...
por sobre o verde turvo do amplo rio
os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil -
do que não foi, nem pode ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho porque a vida é nada."

19/11/1935

terça-feira, dezembro 21, 2004

Olha só o que eu achei!


Escarafunchadora....

Certo dia, lendo uma das crônicas do Luís Fernando Veríssimo, deparei-me com a desconhecida palavra "escarafunchador", termo interessante designada para adjetivar pessoas xeretas, que fuçam até descobrirem coisas que se acreditavam extintas.
Hoje estava assim, meio "escarafunchadora", e olha o que eu encontrei remexendo numa caixa de textos antigos:

NOVELA

Pseudo-hippies tentam me convencer
que a utopia é possível
da paz, do amor livre
e do meu amigo invisível

Que a filosofia ébria
rolando nas mesas de bar
Será um dia a Constituição
o que irá nos salvar

Ondas emitidas ao mundo todo
Semeiam a mesma mensagem
De nada vale o conteúdo
Então trabalhe sua imagem

Compre este shampoo
e seus problemas terão acabado
Senta, se emboneca e espera
a vinda do teu príncipe encantado

Esquizofrenia é charme
nestes tempos modernos
e os pobres dos loucos
assistem a tudo perplexos

Pegue duas gírias
junte com um batuque
e terás uma melodia
e uma letra de araque

Pose nu para uma revista
Venda um milhão de cópias
Exponha sua vida
E não deixe de acompanhar a novela.

Acho que isto foi o mais próximo que eu já cheguei da poesia. Mas vou continuar "escarafunchando" ... Quem sabe encontro mais alguma coisa.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Nublou tudo!

Por tanto amor, por tanta emoção,
a vida me fez assim
doce ou atroz, manso ou feroz
Eu, caçador de mim...

Reflexo do tempo chuvoso... Lá vem lamentos. Que agonia a falta do que fazer, falta de cansaço físico! Leio, navego, assisto filmes, escrevo, e, quando olho para o relógio, percebo que os ponteiros não evoluíram muito desde a última checada de horário. Fazer o que então? Pensar besteira!
Começo fazendo um balanço da minha vida - atividade inevitável para aqueles que estão ociosos - e descubro que não fiz ou sou porra nenhuma. Enfim, sou um peso vivo que os pais tem que carregar, e o pior, estou pecando pela falta de originalidade do tema. Entretanto, prometo um final não tão melancólico!
Não tenho emprego e não terminei a faculdade (coisas que me chateiam). Não tenho namorado - essa parte quem se preocupa é a minha mãe! (rs). Mas, querem saber de uma coisa - estou me dirigindo aos raros leitores - estou bem assim!
Sou dona do meu nariz. Posso dormir até tarde, dessa forma, destinando minhas madrugadas para atualizar este blog. Estar sem emprego me torna consciente da realidade sócio-político-econômica do país. Tenho tempo para leitura e atividades físicas, embora nunca tenha praticado exercícios. Neste último ano de faculdade terei a oportunidade de conhecer mais pessoas interessantes. Em suma... estou ótima!

QUANTA BOBAGEM!!!!!

domingo, dezembro 19, 2004

Gosto de futebol! E daí?

Gooooooooooooooool

Eu sei que se trata de um esporte das massas, uma forma de pseudo-lazer, instrumento de alienação que ajuda a reforçar a dominação da burguesia sob a classe proletária. Um fenômeno midiático que fortalece a estrutura capitalista. Eu sei, eu sei. Mas muitos devem concordar comigo que se trata de um espetáculo, às vezes muito belo, e viciante, que eu gosto e acompanho.
Estou falando isso porque acabou de acontecer a final do Campeonato Brasileiro 2004. Como era de se esperar, o Santos sagrou-se novamente campeão. Confesso que torcia para o atlético paranaense. Não gosto da idéia de um time paulista se destacando mais que os outros, exportando jogadores como quem exporta bananas, a não ser, é claro, se esse time for o Palmeiras.
Como acontece em finais, fiquei em casa acompanhando a rodada e torcendo por um deslize do time santista. Assisti ao jogo do atlético paranaense - uma chatice! Poucos lances de emoção, jogadores apáticos, prevendo que só ficariam mesmo com o vice-campeonato.
Em outros campos, porém, ocorriam partidas repletas de gols - Corinthians, Flamengo, Atlético Mineiro... No Maracanã, golaço do Palmeiras contra o Fluminense. Valeu o dia perdido em frente à TV.
Nota absurda sobre o meu cachorro
Ocupando minha cabeça ociosa com pensamentos inúteis e sem nexo, lembrei do meu cachorro, o Xu, que morreu faz quatro anos. O Xu, um palmeirense inveterado, vivenciou todas as glórias do verdão na última década.
Primeiro, foi espectador e torcedor ativo na conquista do Bi-paulista e Bi-brasileiro, em 93 e 94. Presenciou a máquina verde que marcou mais de 100 gols no paulista de 96. A Copa do Brasil de 98. E finalmente, o título que o deixou mais empolgado, a Copa Libertadores da América em 99. Que cachorro de sorte!

sábado, dezembro 18, 2004

Musa pacificadora


"Aprendi com a natureza a me deixar cortar e voltar sempre inteira"

Um dos meus desejos mais prosaicos era o de ter vindo ao mundo três dias antes. Por quê? A resposta é porque teria nascido no mesmo dia em que Cecília Meireles nasceu. Provavelmente isso não afetaria em nada o meu desempenho na Terra, principalmente como escritora, mas eu me sentiria orgulhosa por quase nada.
A Cecília é a musa pacificadora dos meus tormentos. Ela e o Drummond. Quando tudo parece que vai desabar sobre minha cabeça, eu abro um livro de poesias de algum deles, e sempre acho uma palavra, um verso, que me conforta, porque reflete exatamente o que estou sentindo.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Homenageando Drummond

Poeta de muitas facetas

Realmente não serei capaz de atualizar esta página todos os dias. Nem completou uma semana e já faltei com a "obrigação" de rechear este espaço com palavras. Falta de criatividade, preguiça, calor em excesso. Desculpas não me faltam. O que me faltará, vez por outra, será assunto.
Hoje tenho um tema. Estou há horas tentando desenvolvê-lo, porém, só o que consigo é "plagiar", involutariamente, o que já foi dito sobre este assunto. Por isso, vou postar um poema, e dedicar uma nota ao seu autor.

Carlos Drummond de Andrade. Admiro as várias faces do poeta. Na 1ª fase modernista conseguiu traduzir direitinho a proposta de ruptura estilística em seus versos, fosse no hilário e repetitivo "no meio do caminho tinha uma pedra", ou, na descrição debochada de sua terra natal, a mineira Itabira, em "cidadezinha qualquer".
Num segundo momento, Drummond se torna mais introspectivo e passa a relatar em seus poemas o momento histórico. O livro "A Rosa do Povo" demonstra um poeta interessado nas consequências da Segunda Guerra Mundial e o Estado Novo, de Getúlio Vargas.

Consolo na praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
Em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve
À sombra do mundo errado.
Murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
Precipitar-se de vez nas águas.
Estás nu, na areia, no vento...
Dorme meu filho.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Guerra

"Que belíssimas cenas de destruição
Não teremos mais problemas com a superpopulação
Veja que uniforme lindo fizemos pra você
Lembre-se sempre que Deus está do lado de quem vai vencer..."

( A canção do Senhor da Guerra)

Há cerca de um ano e nove meses eu estava queimando uma bandeira dos Estados Unidos na faculdade, quando participava de um protesto contra a invasão do Iraque pelo governo estadunidense. Na ocasião produzi o seguinte texto:


Houve um tempo em que os homens marchavam dias, ou até semanas, até os campos de batalha, para fazer a "guerra". Os confrontos eram diretos – homem contra homem duelavam, e tiravam a vida um do outro com uma espada, uma foice, ou qualquer outro objeto cortante. Nesse tempo, os homens lutavam, sobretudo, por territórios e povos para escravizar.
O tempo foi passando. O homem inventou o "CAPITALISMO", que passou a ditar as relações humanas. O mundo ficou muito pequeno. Então, os homens em barcos cada vez mais sofisticados à navegação, passaram a cruzar o oceano para "guerrear". Nesse tempo, além de territórios e escravos, o homem buscava a expansão de "mercado".
Desde que o homem percebeu que territórios, escravos e mercado equivaliam a coisas conhecidas como "dinheiro" e "poder", o homem nunca mais parou de fazer guerra.
Foram verdadeiras barbáries. Milhões de pessoas inocentes mortas. Cidades destruídas. Culturas para sempre perdidas. O homem aperfeiçoara seu poder de fogo. Além de barcos, o homem passou a usar nessas lutas "aviões" e "submarinos", instrumentos que a princípio, tinham sido criados para o conforto da humanidade, foram usados com sucesso no transporte de armas. Nos campos de batalha, não era mais preciso brigar homem a homem. Metralhadoras foram criadas para disparar centenas de tiros por segundo à longas distâncias.
O homem inventou ainda algo cujo poder de destruição foi comparado ao poder de Deus: a bomba atômica, que é capaz de transformar tudo em pó.
Ainda não satisfeito com a bomba atômica, o homem criou bombas químicas e biológicas, que matam tudo que é vivo, mas deixam as estruturas físicas intactas.
Alguns povos chamaram a guerra de "santa", atribuíram-na à vontade de Deus e passaram a matar e a morrer por esse ideal.
Hoje, a guerra é tão sofisticada que parece um jogo virtual. Com armas guiadas por satélite, escolhe-se o alvo e o destrói com precisão cirúrgica. As perdas militares para o lado que ataca são ínfimas. As baixas civis – ou trocando em miúdos – morte de inocentes, ainda são muito expressivas. O motivo para fazer guerra: territórios estratégicos, petróleo, que equivale a dinheiro e principalmente, poder a qualquer custo.
Desde sempre o homem vem fazendo uso da força bruta. Num primeiro momento, a guerra existiu para a sobrevivência. Milhares de anos se passaram. O homem criou inventos maravilhosos: as artes e a filosofia, dominou a tecnologia. Mas a guerra sempre esteve presente. As técnicas evoluíram. As artes de guerra evoluíram. E o espírito humano, evoluiu?
A idéia do texto não é muito original, admito... mas, diante do espírito anti-neocolonialismo que impregnava não só o meio acadêmico, como toda a sociedade, foi capaz de causar comoção.
Só um P.S.: acho que exagerei neste úlitmo parágrafo!

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Poesia e prosa

Há tantos motivos pra chorar
O amor perdido
O objetivo fracassado...

Segundo dia - ainda tenho assunto!

Uma das coisas que mais aprecio é literatura, seja poesia ou prosa. Diante disso, é claro, venho me arriscando no mundo das palavras.
Com a prosa nunca tive problemas. Não é para me gabar não, mas consigo desenvolver um texto coeso sobre qualquer tema desde que saiba o mínimo sobre o assunto. Também me aventuro nos campos da ficção e tenho um desempenho razoável. Já com a poesia...
Os versinhos acima são meus. Uma droga, reconheço! Porém, o que me chateia, além de serem ruins, é o fato de eu não conseguir concluir sequer uma estrofe. Fico bloqueada.
Então, estou aproveitando está minha deficiência artística para escrever algumas linhas sobre o último livro do Chico (Buarque, que por sinal também é cantor e compositor!), Budapeste.
A personagem central da trama é um exímio escritor no gênero prosa, mas não tem intimidade com a poesia. Quando os azares desta vida o colocam em contato com o idioma húngaro, e assim que consegue dominar a nova língua, a personagem descobre-se um poeta da "língua magiar".
Depois da leitura estive pensando. Quem sabe comigo não acontece o mesmo? Quem sabe em outro idioma eu seja poetisa? Talvez em alemão, russo, italiano eu me realize... Que viagem!!!

domingo, dezembro 12, 2004

Gênese

"Tal é a história da criação dos céus e da Terra" (Gênese 2, 4)
Uma agnóstica citando a Bíblia...
Finalmente resolvi aderir à febre que contagia milhões em todo o planeta e criei meu próprio blog. Não tenho a menor idéia de como iniciar esse "troço", por isso vou explicar como escolhi o nome para o meu diário virtual.
Esta página, apesar da nomenclatura, não é destinada aos canibais, no sentido literal da palavra. Antropofagia foi um termo empregado durante o Modernismo - movimento artístico e literário iniciado a partir da década de 20, do qual sou uma aficcionada - e servia para representar o rompimento com valores estéticos considerados ultrapassados. Devido à minha fixação modernista, será comum os senhores visitantes encontrarem referências e citações daqueles que foram símbolo do movimento: Pagu (Patrícia Galvão), Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Tarsila do Amaral, entre outros...
É óbvio que usarei este espaço para divulgar alguns textos meus, mas não esperem nenhuma assumidade literária. Embora me esforce, por vezes acabo aderindo à mediocridade.
Também não esperem que eu escreva todo dia. Apesar de gozar de tempo livre, a criatividade e a vontade me fogem.
Bem é isso... espero que este espaço seja bem humorado e criativo, e espero que tenha vida longa!